Domingo em São Bernardo
Hipermercados
transbordam
carros
pessoas
promoções
de produtos que não preciso
e
que talvez ninguém precise
Nas
ruas os porta-bandeiras urbanos
divulgam
os novos condomínios paradisíacos
que
sempre são lugares de sonhos
que
não os meus
São
muitas as placas humanas nas calçadas
alçando
estandartes de construtoras
cujos
mastros servem para proteger do sol ardente
e
esconder a cara de fome
que
a quentinha fria não conseguiu matar
Nos
carros jovens casais gastam seus domingos
colecionando
folhetos com lindos prédios, jardins
playgrounds,
cinemas particulares e famílias felizes
que
vão compondo o mosaico daquilo que chamam de sonho
Depois
visitam escritórios
de
gente engravatada em pleno domingo de sol
antes
de afogar as mágoas do pesadelo da dívida eterna
comendo
um hambúrguer no shopping
lotado
de
gente que veio encher seus vazios com consumo
Também
tem muita gente em suas casas
arrumando
quartos, salas, cozinhas
cabeças,
corações e corpos atropelados
pela
correria da semana
ou
pela noite anterior
Claro
como sempre há almoços de família
frangos
assando em padarias
e
restaurantes cheios de mesas agrupadas
mas
a minha mesa é quase sempre pra um
Diante
de possibilidades de domingo como estas
acabo
sendo o tipo estranho
que
vai a um parque qualquer
tomar
um mate sozinho
ficar
de meia
ler
um livro
escrever
esse poema
sob
olhares esquisitos de quem passa
ouvir
ao fundo o som das crianças gritando
pássaros
cantando
e
me alegrar por saber
que
ainda existem pessoas que levam seus filhos
pra
brincar nos parques aos domingos
andar
de bicicleta ao ar livre
subir
em árvores
e
até fazem discretos e quase envergonhados
piqueniques
(Lucas Bronzatto)
Gosto da sua sensibilidade, seus poemas tão profundamente humanos... Bjos.
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