domingo, 26 de agosto de 2012

Hora de ir


Hora de ir
(Lucas Bronzatto)

Sempre que a gente vai
a gente fica
e muito fica na gente

A mochila nunca vai do mesmo jeito que chegou
Ao mesmo tempo que enche
esvazia
e o peso fica quase o mesmo:
sonhos, rascunhos, roupas, papéis, pessoas
planos, pedaços de pedras e perguntas

As perguntas às vezes mudam
mas continuam perguntas
Quando a gente cria coragem
e encara nossas próprias perguntas
as interrogações pulam da mochila
rolam até as solas dos sapatos
e agem como molas que nos fazem ir
mais alto
mais longe
mas quando deixadas ali no fundo da mochila
elas se enrolam em pontos finais
viram pedra e caem dentro dos sapatos
Nesses casos ou a gente fica parado
ou se acostuma com o incômodo

Às vezes o caminho muda
quando a gente muda o jeito de caminhar
às vezes é preciso mudar de caminho e partir

Pra partir nem sempre se precisa ter rumos claros
horizontes visíveis caminhos traçados

Às vezes é bom trocar planos amarelados
por papéis em branco sem pauta
e canetas novas de outras cores

Sempre que a gente vai, leva pedaços
os olhos viraram outros olhos
recompostos com olhos de outros
levamos palavras que não falávamos
manias que não tínhamos
respostas e perguntas que nos deram
vai com tanto de tanta gente
deixa tanto pra tanta gente

Sempre que a gente vai, vai aos pedaços
A gente se faz e se desfaz no convívio
morre e mata
nasce e faz nascer
cada vez que a gente morre, nasce
cada vez que a gente parte, chega