Arte Poética de los Andes
Eu
bem que poderia escrever um poema
sobre
a beleza branca de Sucre
ou
a imensidão do deserto de sal em Uyuni
Poderia
cantar odes à lua
ao
sol
descrever
o modo como nascem e morrem
nessas
paisagens deslumbrantes
cantar
o charme das lhamas
a
cor do canto dos pássaros
os
sons das ruas e dos vilarejos no deserto
o
silêncio das estrelas do céu do Atacama
a
força dos gêiseres e da lava
o
cheiro do Oceano Pacífico
que
me invade enquanto escrevo esse poema
Bem
que poderia
mas
o sal em meus olhos não me deixa
As
fronteiras rompidas em cruzadas de olhares
as
dores sem pátria
tão
minhas
me
lamentam versos no ouvido
e
não consigo me fazer de surdo
Urgências
me consomem
a
ponto de parecer sem sentido
falar
dessas paisagens
Sua
gente
tão
minha
me
chama
e
me faz crer que é preciso contar
e
cantar
os
não-brancos que vivem nas sombras de Sucre
a
vida deserta de quem extrai sal em Uyuni
a
pobreza de países tão ricos
o
sol que não nasce pra quem morre todo dia
nesses
lugares deslumbrantes
os
povoados e vilarejos que não povoam mais a Terra
as
estrelas silenciadas pelos generais nas ditaduras
e
quem eram os que tiveram seus sonhos interrompidos
por
erupções de ódio em forma de coturno
a
lei de pesca chilena que elitiza o mar
e
naufraga o sustento dos pescadores
Sua
gente
tão
minha
me
faz cantar esses silêncios
desgraças
da raça humana
que
até Pacha
Mama cantaria
se
soubesse escrever
mas
como não sabe
apenas
grita
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