segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Purgatório

Purgatório

 (para Dani Santos)


Perguntam-me sobre poemas
não tenho respostas

As margens que comprimem esse Rio
de janeiro a janeiro
me deixaram mudo
Tão grandes feridas nas retinas
tornaram pequenos meus versos

Desmaravilhadores
desceram de seus helicópteros
saqueando minhas palavras
Do alto de seus edifícios empresariais
pescaram metáforas da minha garganta

Estilhaços de bomba incrustaram-se no céu
da minha boca
Prisão preventiva de ideias
Junto à saliva e ao sangue
dos tapas na cara dados pela realidade
cuspi frases inteiras

Graças aos pés fincados na rua
só foi embora o que era ingênuo
Por ora ficou esse mutismo
que se sabe passageiro
silêncio
incômodo
olhos que cicatrizam
e eu pé ante pé
juntando as palavras que sobraram
às pedras
e ao que brota no deserto

(Lucas Bronzatto)

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