domingo, 21 de julho de 2013

Oficina

Oficina
(poema composto com versos emprestados e imprestáveis)

é palavra dita errada sem querer, mal-ouvida
a poesia é isso mesmo que você viu, não duvide, não revide
poesia é falta, é sobra, dá lugar pro que não leva a lugar nenhum
poesia é exercício de liberdade
tem gente que inventa exercício pra libertar poesia
e consegue
a poesia tem Tantas Letras quanto necessário
a poesia, essa desnecessária, é pão amanhecido
é pão dura, fartura, tá dura, desempregada,
coitada, a poesia é o caroço da literatura
é angu de caroço é tabu é urubu é aguda
urge ruge grunhe sussurra cutuca assopra
a poesia é uma compilação de momentos incríveis
escritos com palavras brandas e suaves
é aquele momento que você tá ali, sossegadicto
vestindo letras com sua costela feita de carne 
e seus sonhos im/possíveis que nem cabem no poema
a poesia é a consolação daquele amor de 2 reais e 90centavos
a poesia é um tormento secreto distorcido pra que alguém não entenda
é uma mulher em rota de chuva na estação das águas
um homem que pouco a pouco se funde a uma árvore
a poesia é uma árvore caída nas costas da própria sombra
é o que normalmente não se vê
como os versos que escorrem nos vidros das janelas dos ônibus
(como você pode ver, não é coisa de gente normal)
a poesia é o retalho de si mesma e se sente tão estrangeira quanto seu nome
a poesia impregna desejos enormes em poemas curtos
entra ensanguentada nas trincheiras de poemas tortos
a poesia já tava assim quando eu cheguei, eu não tenho tudo a ver com isso
camaradas, a poesia quer mesmo é romper os muros
que desbotam e dissipam os anseios, a poesia, ousada que só ela,
quer diagnosticar a esquizofrenia do capitalismo
a poesia quer cantar Belchior quando fica bêbada
escrever poema em guardanapo fazer samba com paliteiro
a poesia é o palito de dente que num descuido
espeta sua gengiva e enche sua boca de sangue
poesia é boteco é biblioteca é pinacoteca
todo dia é dia de poesia mas as tardes de sábado parecem mais propícias
a poesia se mantém poesia mesmo numa sala cheia de revistas veja
a poesia é uma gaveta repleta de currículos ao contrário
e dezenas de acrobatas que você não vê
a poesia é uma outra que não essa
poesia é o que nunca pode ser sem ter sido, é o que nunca foi
a poesia não é enlatada, nunca vem lacrada
e se tiver aí entalada toma uma lapada que ela escapa
a poesia não é nada disso, esqueça tudo que eu disse
quem diz o que a poesia é

é o poema

(Lucas Bronzatto)
para/com os amigos de Tantas Letras e Lapadas

2 comentários:

  1. Emocionante Lucas, posso sentir os momentos incríveis, vestindo letras tecidas pelo maravilhoso poeta...
    bjo
    Su

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  2. Ficou fácil fazê-lo, Su! Só juntei uma pequena parte da poesia de vocês em um poema só!
    Bjos

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