Rua
Alfredo Thieres Vieira, nº
Janelas eram portas para as almas
Calçadas eram bancos de dividir e ver passar a vida
Postes iluminavam os olhos
que seguiam as moças de caderno na mão
Garagens tinham sofás no lugar de carros
Quartos eram universos particulares coletivos
Salas eram estúdios de ensaio, salões de festa, divãs
Banheiros eram lugares de soltar a voz e os vômitos
Árvores não havia, apenas raízes
dessas que a gente cria e carrega
Não havia muros na rua Alfredo Thiers Vieira
Na verdade tinha um, incapaz de conter qualquer coisa
Era muita vida pra uma rua só
Uma rua de vida própria
trilha sonora própria
Uma rua, tantos mundos
Portas viviam destrancadas
ou tinham assobios como chaves
Cabos solidários de fibra ótica
emaranhavam ainda mais as vidas
Nas varandas as varandas vizinhas
eram o horizonte mais bonito
No ar o cheiro da gororoba inventada
era pretexto de cerveja
O tráfego maior era de entregadores de bebidas, pizzas,
lanches e Caros Amigos
O asfalto era palco de festas
que ainda acontecem em nós, sem hora pra acabar
Ali muitos de nós sonhávamos de punho erguido
Assim como criança aprende a brincar de verdade na rua
é na rua que estudante aprende a lutar de verdade
Morar na Alfredo Thiers ou Thieres, como quiseres,
(afinal, nem os Correios sabem ao certo)
é o mais perto de brincar na rua que um adulto pode chegar
sem mãe chamando pra dentro pra jantar
Mas um dia é a vida que vem e nos chama
Berra
- Sai da rua menino vai já garantir seu jantar
E a gente vai
mas leva a rua no bolso
Cria um monte de esquinas no nosso caminho
pra dobrar quando quiser
A Alfredo Thiers Vieira faz esquina com o tempo
(Lucas Bronzatto)
(Lucas Bronzatto)
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