domingo, 1 de julho de 2012

Prisões

Prisões
(Lucas Bronzatto)
Está tudo aqui e aí dentro
embora a gente talvez não perceba
Correntes correm junto aos nervos
que fazem mover nossa boca
São amarras armadilhas imperceptíveis
prontas para dificultar a passagem
das palavras que partem das vísceras
Vítimas, estas fogem pra pele
ou morrem sufocadas na laringe

Tudo aqui e aí dentro
muralhas que a gente cultiva como jardins
mortalhas que a gente tece como artesãos
tralhas e mais tralhas guardadas sem porque
navalhas que a gente deixa enferrujar

Está tudo aí e aqui dentro
embora a gente talvez não sinta
essa mão enorme e invisível
estrangulando nosso coração
quer imitar o amor
limitar o amor
eliminar o amor pouco a pouco
até deixar um oco 
um eco 
um boneco

Tudo aí e aqui dentro
Grades de luzes coloridas
aprisionam nossos pensamentos mais nossos
nossa vontade de ser quem a gente é
As coisas compradas no sábado
viram cadeados cordas e celas
que prendem e impedem as pulgas
de irem até a parte de trás das orelhas

Felizmente
pra gente se libertar
está quase tudo aqui
quase tudo aí dentro também
embora a gente talvez não saiba:
planos de fuga
táticas de guerra
facas de serra
limas alicates
britadeiras bandeiras
e até dinamites
Quase tudo aqui e aí dentro
o que falta aqui está aí
ou naquele prisioneiro ali
ou no outro
no outro
e vice-versa vice-versa vice-versa
vice-versa

4 comentários:

  1. Lucas, que primor! Adorei mesmo. É uma "escavação" da mente, do coração, da alma. Parabéns.

    Elaine

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  2. E aqui está o Enquanto é tempo :)

    Sobre como as coisas viram cadeados cordas e celas... mas sobre planos de fuga também.

    Gostei da sua poesia!

    Abraços,
    Fernanda

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  3. Verdade!!
    vamos manter contato, que nossos versos se conversam!
    Abraços

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