terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Palavras ao Invisível

Palavras ao Invisível
(Lucas Bronzatto)

Queria que minhas palavras
quando lidas em muitas vozes altas
cortassem seus pulsos 

e jorrasse toda a Coca-Cola 
e o petróleo
que correm em seus veias
até não sobrar gota negra nenhuma
para contar sua história

Queria que minhas palavras
quando lidas em muitas vozes altas
arrancassem seus dedos
pra que não conseguisse mais segurar
os comprimidos
que discretamente coloca nas bocas
para calá-las

Queria que minhas palavras
quando lidas em muitas vozes altas
apertassem com força as gravatas
de todos os seus filhos prediletos
Estilhaçassem os vidros
de todos os prédios empresariais
de todas as salas de chefes
com seus recursos desumanos
e deixassem em cacos
todas as consciências opressoras
Que implantassem pesadelos nelas 

Terríveis pesadelos
que estrangulassem ainda mais as gargantas
no dia seguinte

Queria que minhas palavras
quando lidas em muitas vozes altas
incinerassem todas as televisões e rádios
todos os jornais e revistas
que servem somente ou sutilmente a você
Que virassem crime o estupro de verdades
e o fomento à guerra
contra nós mesmos

Queria que minhas palavras
quando lidas em muitas vozes altas
mostrassem pra todo mundo
inclusive pra mim
que só palavras não bastam
pra te aniquilar

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