Pinheirinho
(Lucas Bronzatto)
Do rio que tudo arrasta
se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas
as margens que o comprimem
(Bertolt Brecht)
Quando morar é um privilégio
ocupar é um direito
Retumba o brado
do povo heroico do Vale
Rio de povo
comprimido por margens
comprimido por margens
nada plácidas
nada complacentes
nada
comprime o rio totalmente
Quando matar se ensina no colégio
policial impõe respeito
assassinando com pose de herói
Soturno coturno que espanca
Vivo, o Pinheirinho queima
Os olhos ardem tanto
que fica impossível fechar
A não ser que você queira
Quando sobreviver é um sortilégio
é preciso cobrir de latão o peito
e se entregar à luta desigual
pintura moderna da desigualdade
aquarela dissolvida em sangue
Balas perdidas não assustam
Espantam as balas encontradas
na cabeça no pé no peito na alma
até de mulheres e crianças em fuga
Quando resistir é um sacrilégio
ser pobre é um defeito
Seis mil invasores
seis mil bandidos
seis mil criminosos
que denunciam
a criminosa mídia que deturpou
a criminosa mídia que deturpou
a criminosa justiça que ordenou
o criminoso grupo político que acatou
a criminosa polícia que executou
o criminoso capitalismo que os criou
o crime nosso de deixa-lo vivo
e procriando
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São José dos Campos, 22 de janeiro de 2012
e
Bárbarie...