sábado, 28 de janeiro de 2012

Pinheirinho

Pinheirinho
(Lucas Bronzatto)

Do rio que tudo arrasta
se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas
as margens que o comprimem
(Bertolt Brecht)

Quando morar é um privilégio
ocupar é um direito
Retumba o brado
do povo heroico do Vale
Rio de povo 
comprimido por margens
nada plácidas
nada complacentes
nada
comprime o rio totalmente

Quando matar se ensina no colégio
policial impõe respeito
assassinando com pose de herói
Soturno coturno que espanca
Vivo, o Pinheirinho queima
Os olhos ardem tanto
que fica impossível fechar
A não ser que você queira

Quando sobreviver é um sortilégio
é preciso cobrir de latão o peito
e se entregar à luta desigual
pintura moderna da desigualdade
aquarela dissolvida em sangue
Balas perdidas não assustam
Espantam as balas encontradas
na cabeça no pé no peito na alma
até de mulheres e crianças em fuga

Quando resistir é um sacrilégio
ser pobre é um defeito
Seis mil invasores
seis mil bandidos
seis mil criminosos
que denunciam
a criminosa mídia que deturpou
a criminosa justiça que ordenou
o criminoso grupo político que acatou
a criminosa polícia que executou
o criminoso capitalismo que os criou
o crime nosso de deixa-lo vivo
e procriando

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 São José dos Campos, 22 de janeiro de 2012


Bárbarie...

sábado, 21 de janeiro de 2012

Miradas del Che

Miradas del Che
(Lucas Bronzatto)

Da escola de La Higuera você me olha
com olhar parado de bala
de boina atravessada
Viaja quilometros pra me lembrar
que não deve haver fronteiras
além das cordilheiras e rios
que nos unem
Seu olhar assustado denuncia:
Fronteiras ajudam a assassinar
revolucionários sem fronteiras

De Santa Clara você me olha
de um rosto de bronze, de urna
que guarda suas órbitas, seus ossos
Me lembra da conversa que tivemos aí
Silencioso monólogo
em sua querida presença
renovadora de convicções
Seu olhar calado questiona
em qual urna depositei as convicções renovadas
os estudos sobre marx
e todas as lutas que prometi fazer

Do palanque da Assembléia da ONU você me olha
numa brevíssima pausa de respiro
entre um disparo e outro de palavras de seu discurso
Seu olhar convicto me convida
a escrever nossa própria História 
a descarregar fusis de ideias todos os dias
a alimentar o espírito revolucionário
e não deixar as indignações mais profundas
morrerem de fome todos os dias

Das camisetas que passam você me olha
Quanto mais desfigurado
debochado e irreconhecível está seu rosto
mais forte é seu chamado,
seu pedido de ajuda
Seu olhar inspirador anda triste
Olhos cansados de quem tenta e não consegue
atravessar as selvas de peles e pulmões
(quase todos mais sadios que o seu)
pra montar acampamento nos corações outra vez

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Um excelente filme, inspirador desse poema: http://www.youtube.com/watch?v=5hpVI3JoobU
E um post do blog do Silvio Rodriguez, concidentemente ou não, dessa mesma semana:
http://segundacita.blogspot.com/2012/01/che-desde-la-memoria.html