Cela-lar
O
celular de Naná
é
a lua
(Otto)
Autorização
pra se ausentar
repetidas
vezes
o
olho faz o ouvido ouvir fragmentos
parte
do que é dito apenas
a
duras penas
Conexão
que desconexa a conversa
Cabeças
confusas
frases
que se perdem
num
arrastar de dedo
num
arrastar de olhos
Holograma
ao contrário
tela
que engole
o
gole no copo atrasa
esfria
se era quente
esquenta
se era frio
Aplicativos
desimplicativos
mundos
nos dedos
e
menos dedos no mundo
Fazer
aquela cara meio sem graça
quando
flagrado com o olho na botija
fingindo
que ouvia
enquanto
via outra coisa
meio
sem jeito de perguntar de novo
“que?”
Pedir
desculpas por não estar presente
e
continuar não estando
Perder
as paisagens das janelas laterais
dos
trajetos da vida
Tomar
café da manhã com passarinhos
virtuais
cantando mensagens
e
mal ver o bem-te-vi lá fora
Vem
almoçar menino
que
o celular já tá na mesa
Vem
jantar menina
que
o celular já tá na mesa
Olhar
a tela é desculpa mais aceitável
pra
continuar não olhando
pra
quem senta ao lado no metrô
Toque
restrito à tela
Tanta
gente com fome de ouvido
e
tanta gente com fone de ouvido
Perder-se
pouco
achar-se
frequentemente
com
a respiração presa
com
a vida presa
Ficar
mais perto
de
quem mesmo?
Ficar
mais esperto
pra
que mesmo?
Prefiro
vidrar os olhos no celular de Naná
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