Ponderações
sobre ponteiros
O tempo
corre
todo mundo
sabe
Todo mundo
tem um jeito de medir o tempo
O minuto
de cada pessoa gira
geralmente
descompassado dos ponteiros
O tempo
escorre
quando é a
correnteza quem nos leva
Semanas de
distância viram dias
A cada
etapa concluída
marca-se
um X em um item do checklist
intitulado
‘como a vida deve ser vivida’
(aquele que
não foi escrito com a sua letra)
zera-se o
cronômetro
e a
corrida recomeça
A vida
derrete
junto com
o relógio
O tempo
morre
de morte
matada, doída e esfacelada
cada vez
que se enche a mente de vazio
ou de
afazeres que nunca são feitos
morre
sempre que
inventamos desculpas para não viver
ou quando barulhos
abafam a própria voz
Os sons da
natureza ressuscitam o tempo
são dotados
de uma misteriosa tecnologia
de
amplificação das vozes internas
que possibilita
ouvir com clareza
o que
temos a dizer pra nós mesmos
Nessa
harmonia,
o tempo socorre
cura um
pouco do que é possível curar
dos
estrangulamentos diários,
característicos
do mundo que criamos
alimentamos
ou
deixamos crescer
sem
palpitar sobre a má criação
desse filho renegado
O tempo
corre
todo mundo
sabe
O minuto
de cada pessoa gira
geralmente
descompassado dos ponteiros
Por um
tempo curto,
meu minuto
anda longo
Dias de
distância viram semanas
Feito
espectador de corrida de cem metros
apenas vejo
as pessoas correrem
torcendo
pra que um
dia parem um pouco
mas quase
ninguém tira o olho da pista
apenas
correm e meu minuto
anda
tão
longo
a ponto de
perceber
quantos
minutos já deixei escorrer pelo ralo
como
crescem as folhas de um bonsai
o que
causa no corpo uma noite mal dormida
uma palavra
mal escolhida
uma comida
mal preparada
um
trabalho ingrato
Tão longo
a ponto de acreditar
que mesmo
na correnteza
de vez em
quando é possível impedir que o tempo escorra
mesmo que
seja escrevendo poemas como esse
sem pressa
e só
O Senhor Tempo, Cronos na mitologia é um assunto inesgotável e tão profundo que a gente chega a se perder. Adorei seu poema, Lucas, me lembrou várias coisas, uma delas é aquela tela de Salvador Dali que é um relógio derretendo. Superlegal.
ResponderExcluirElaine (TL!)
Oi Elaine,
ResponderExcluirQue bom que gostou! É sempre lisonjeador elogio seu..
Eu escondi a tela do Dali nos versos mesmo, para os leitores mais atentos a enxergarem, hehehe!
Um abraço