quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ponderações sobre ponteiros


Ponderações sobre ponteiros

O tempo corre
todo mundo sabe
Todo mundo tem um jeito de medir o tempo
O minuto de cada pessoa gira
geralmente descompassado dos ponteiros

O tempo escorre
quando é a correnteza quem nos leva
Semanas de distância viram dias
A cada etapa concluída
marca-se um X em um item do checklist
intitulado ‘como a vida deve ser vivida’
(aquele que não foi escrito com a sua letra)
zera-se o cronômetro
e a corrida recomeça
A vida derrete
junto com o relógio

O tempo morre
de morte matada, doída e esfacelada
cada vez que se enche a mente de vazio
ou de afazeres que nunca são feitos
morre
sempre que inventamos desculpas para não viver
ou quando barulhos abafam a própria voz
Os sons da natureza ressuscitam o tempo
são dotados de uma misteriosa tecnologia
de amplificação das vozes internas
que possibilita ouvir com clareza
o que temos a dizer pra nós mesmos
Nessa harmonia,

o tempo socorre
cura um pouco do que é possível curar
dos estrangulamentos diários,
característicos do mundo que criamos
alimentamos
ou deixamos crescer
sem palpitar sobre a má criação
desse filho renegado

O tempo corre
todo mundo sabe
O minuto de cada pessoa gira
geralmente descompassado dos ponteiros
Por um tempo curto,
meu minuto anda longo
Dias de distância viram semanas
Feito espectador de corrida de cem metros
apenas vejo as pessoas correrem
torcendo
pra que um dia parem um pouco
mas quase ninguém tira o olho da pista
apenas correm e meu minuto
anda
tão
longo
a ponto de perceber
quantos minutos já deixei escorrer pelo ralo
como crescem as folhas de um bonsai
o que causa no corpo uma noite mal dormida
uma palavra mal escolhida
uma comida mal preparada
um trabalho ingrato
Tão longo a ponto de acreditar
que mesmo na correnteza
de vez em quando é possível impedir que o tempo escorra
mesmo que seja escrevendo poemas como esse
sem pressa
e só

2 comentários:

  1. O Senhor Tempo, Cronos na mitologia é um assunto inesgotável e tão profundo que a gente chega a se perder. Adorei seu poema, Lucas, me lembrou várias coisas, uma delas é aquela tela de Salvador Dali que é um relógio derretendo. Superlegal.

    Elaine (TL!)

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  2. Oi Elaine,
    Que bom que gostou! É sempre lisonjeador elogio seu..
    Eu escondi a tela do Dali nos versos mesmo, para os leitores mais atentos a enxergarem, hehehe!
    Um abraço

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