terça-feira, 17 de novembro de 2015
Águas da samarco
ÁGUAS DA SAMARCO
É mercúrio é ferro é o caminho do fim
é um resto de corpo é um povo sozinho
é cadáver de peixe é cadáver de gente
é a morte é a morte é a morte é a morte
é peroba na cara é cinismo é balela
é pra ir pra cadeia pois não foi acidente
São águas da Samarco intoxicando o Rio Doce
correnteza de morte, dor e destruição
É dindin nas campanhas é silêncio na mídia
é tudo ao vivo em Paris, em Minas tudo editado
é um pingo de assunto é uma conta sem dono
é espécie extinta é prata de Potosí
é o cobre do Chile é escravidão do carvão
é a excelência que tem a iniciativa privada
é a soja é a cana o estilhaço na alma
é o resto da casa é a tribo no trilho
é o carro engolido é a lama é a lama
É alumínio é cobre é o caminho do fim
é um resto de corpo é um povo sozinho
é a lama da Vale amargando o Rio Doce
é promessa de morte pra próxima geração
É paródia mal feita que não é de cantar
é de gritar
escrita sobre os mortos
e desaparecidos
sobre a natureza morta
e desaparecida
Imagens marcadas a ferro nas retinas
Minas em meus olhos
jorram
jorram
jorram
Era anunciada sua tragédia, Minas
eles já sabiam
do caos à lama
da lama ao caos
ô Josué eu nunca vi tamanha desgraça
do caos à lama
da lama ao caos
um povo roubado
nunca se engana
muitos povos roubados
nunca mais nos enganarão
nada virá deles
só mais roubo
só mais rombo
É chumbo é bário é o caminho do fim
é um resto de corpo é um povo sozinho
é a lama da Vale amargando o Rio Doce
é promessa de morte pra próxima geração
Minas
o que sai de suas minas
ao invés de enriquecer seu povo
enriquece uns poucos
Fartura há só de estrago
partilha há só de prejuízo
excesso há só de sede
O minerioduto que passa debaixo de sua terra
Minas
e suga a água das pias das casas
leva seus minérios pra longe daqui
pra outras freguesias
pra outras burguesias
e burguesia é tudo igual
só muda o idioma que usam pra explorar
pessoas e terras
Aprendamos então como dizer culpados
em todos os idiomas
pra escancarar quem é que rouba quem
como dizer revide
em todos os idiomas
Revide!
Reparou?
Pra burguesia nunca falta nada
já pra quem vive do Rio Doce
faltar é verbo que sobra
invade frases como barragem rompida
Falta o rio sagrado
e se “morre rio, morremos todos”
morremos todos
morremos todas
morremos
Compadecer-se é pouco
lágrimas não limparão o rio
rezas não purificarão o rio
Só a luta muda
o curso do rio intoxicado da História
(Lucas Bronzatto)
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