Um poema que tem como epígrafe uma tirinha! Do livro Macanudo, do genial Liniers.. Clique na imagem antes de ler o poema..
Murais de concreto
(Lucas Bronzatto)
(Macanudo por Liniers)
Alberto não sabe ao certo a data de aniversário
dos amigos que fez nos últimos anos
Sem lembretes virtuais não liga
nem manda sua mensagem pré-fabricada
com discreta personalização
Juliana não cumprimenta todos seus amigos virtuais
quando encontra no mundo real
Ana sempre tira foto onde quer que chega
Faz check-in e publica logo de cara
o que o olho viu apenas de relance
fica tão preocupada se os outros vão curtir
que não curte
Carlos acha mais fácil saber dos amigos pelas fotos
do que perguntar
Marcelo sempre posta frases reflexivas
com fotos em preto e branco
de escritores que nunca leu
Reflete por uns segundos
e depois nem lembra mais
Marília compartilha quase tudo com seus amigos
menos momentos reais
Paulo olha se tem atualizações a cada 5 minutos
Diz que quando quiser parar, ele para
Felipe fica online todo dia
mas demora dias pra responder e-mails
principalmente os que perguntam como vai
João nunca fez piquete nem passeata nem ocupação
mas compartilha muitas fotos e frases de luta
Sem sair do quarto faz história
é revolucionário de cadeira giratória
Carla vive procurando trechos de poemas e músicas
pra declamar com os dedos
em seu solitário sarau de mural virtual
Plateia cheia no espetáculo da exposição
O cenário esconde os bastidores
tampa a porta da rua
no palco um monólogo de uma frase só:
– Status muito curtido é o que dá status
Aplausos
e o status quo imóvel na linha do tempo
“no que estou pensando agora?”
puta saudade de prender foto com tachinha