Hora de ir
(Lucas Bronzatto)
Sempre
que a gente vai
a
gente fica
e
muito fica na gente
A
mochila nunca vai do mesmo jeito que chegou
Ao
mesmo tempo que enche
esvazia
e
o peso fica quase o mesmo:
sonhos,
rascunhos, roupas, papéis, pessoas
planos,
pedaços de pedras e perguntas
As
perguntas às vezes mudam
mas
continuam perguntas
Quando
a gente cria coragem
e
encara nossas próprias perguntas
as
interrogações pulam da mochila
rolam
até as solas dos sapatos
e
agem como molas que nos fazem ir
mais
alto
mais
longe
mas
quando deixadas ali no fundo da mochila
elas
se enrolam em pontos finais
viram
pedra e caem dentro dos sapatos
Nesses
casos ou a gente fica parado
ou
se acostuma com o incômodo
Às
vezes o caminho muda
quando
a gente muda o jeito de caminhar
às
vezes é preciso mudar de caminho e partir
Pra
partir nem sempre se precisa ter rumos claros
horizontes
visíveis caminhos traçados
Às
vezes é bom trocar planos amarelados
por
papéis em branco sem pauta
e
canetas novas de outras cores
Sempre
que a gente vai, leva pedaços
os
olhos viraram outros olhos
recompostos
com olhos de outros
levamos
palavras que não falávamos
manias
que não tínhamos
respostas
e perguntas que nos deram
vai
com tanto de tanta gente
deixa
tanto pra tanta gente
Sempre
que a gente vai, vai aos pedaços
A
gente se faz e se desfaz no convívio
morre
e mata
nasce
e faz nascer
cada
vez que a gente morre, nasce
cada
vez que a gente parte, chega